Conheça a trajetória do proprietário da Will Arte, um aficionado por invenções.
Os produtos da Will Arte não são obras do acaso – eles vêm da imaginação e da linguagem construtiva do arquiteto Wilson “Will” Alves.
Quando se formou pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), em 1979, Will já tinha um caminho percorrido no âmbito artístico. Paralelamente à faculdade, onde ingressou em 1972, cursou a Escola Brasil.
Discípulo
Lá, em troca de uma bolsa de estudos, foi assistente do artista plástico Luiz Paulo Baravelli, um dos fundadores desta instituição revolucionária e coordenador da oficina de madeira e metal.
Apesar de ter funcionado durante apenas cinco anos, a Escola Brasil foi um marco no ensino das artes plásticas.
Os dirigentes da instituição condenavam o aprendizado técnico-formal e, ao mesmo tempo, propunham o desenvolvimento criativo dos alunos.
Escultor Construtivista
A experiência foi marcante para Will, que se dedicou, então, ao estudo da escultura, mantendo a preocupação de não fazer arte pela arte, mas sim arte como desenvolvimento de linguagem com vistas à depuração sensitiva.
“Nessa época”, lembra ele, “já usava conceitos de matemática, física, história e economia política nos meus trabalhos”.
O arquiteto observou que tais disciplinas continham elementos que podiam – e deviam – ser aplicados nas suas criações.
Era o embrião da sua linguagem construtivista
A leitura de O Capital, de Karl Marx, foi um divisor de águas na carreira do arquiteto.
“A partir daí, percebi que precisava ter uma unidade de produção, um local que agregasse pessoas e produzisse objetos”, conta ele, sobre a semente de sua trajetória no terreno do desenho industrial.
Marcenaria
A guinada para a marcenaria Will teve uma carreira meteórica nas artes plásticas. Em 1976, foi vitorioso em um salão no MAM-RJ (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro).
O prêmio era uma viagem à Europa. Passou um ano entre Paris, Florença e Londres.
Na capital londrina, frequentou, como aluno-ouvinte, a Architectural Association School of Architecture, então a mais conceituada escola de arquitetura de vanguarda do mundo.
Premiações
Em 1978, conquistou outra premiação, desta vez no MAM-SP.
O ano de 1979 trouxe acontecimentos que se traduziriam numa virada na carreira de Will. Primeiro, um incêndio no MAM-RJ, que destruiu quase todas as obras da exposição construtivista da qual participava.
Além da tragédia, o tratamento dado aos artistas pelos marchands descontentou ainda mais Will. “Resolvi me marginalizar a esse mundo das artes.
Foi uma decisão consciente, para preservar minhas descobertas no mundo das linguagens”.
Arte x Mercado
A percepção de que a arte era, na verdade, sustentada por uma estrutura mercantil, somada às respostas indicadas pela leitura de Marx, fez com que o arquiteto mudasse sua trajetória.
“Resolvi produzir obras com valor de troca, sem aura de arte”, comenta. Nesse mesmo período, ao participar de um concurso de arquitetura, Will ganhou um prêmio em dinheiro.
Isso possibilitou a compra de equipamentos de marcenaria.
Nos próprios passos
Era o último ano de faculdade, e ele alugou um galpão na Lapa, zona oeste de São Paulo. Notara que a questão da ergonomia, ciência que estuda a relação entre o homem e o ambiente, podia lhe render muitos inventos: mesas, bancadas, estantes… Mal podia imaginar o arquiteto, porém, que o grande pulo-do-gato em sua carreira, em termos de sucesso comercial, seria a reinvenção de um objeto usado há centenas de anos – o pente.
“Para fazê-lo, estudei até a aerodinâmica de avião, levando em conta a ergonomia, o tamanho das mãos e dos dedos, entre outras considerações”, revela.
Daí em diante, Will não parou de inventar – atividade que mais gosta de fazer. Quebra-cabeças, brinquedos, bandejas, bancos…
Na sua imaginação, a madeira poderia adquirir infinitos contornos e servir ao homem em diferentes possibilidades.
E, financeiramente livre, pôde dedicar-se a sua obra Vênus, Escultura Imaginária, que busca a libertação e realização como puro valor de uso sem suporte físico para valor de troca.
“Eu me embrenhei na questão da possibilidade de uma obra sem suporte físico.
No campo da arte, eu inventei uma escultura imaginária, a fim de libertá-la do mundo das mercadorias.
Como uma hipótese de libertação do suporte físico, ela só se realiza nas imaginações”, explica o artista.
A descoberta
A descoberta das tinas no final dos anos 90, por sugestão de uma amiga, Will começou a produzir tinas.
Primeiro, para ele mesmo, Nem as dificuldades relativas à matéria-prima, aos custos e à ergonomia, entre outras, abalaram o artífice.
Ele sabia – e sabe até hoje – que a confecção de tinas é um estudo contínuo, que nunca tem fim.
Surgiram as primeiras encomendas, e logo a produção tornou-se o ponto central em seu ateliê.
“O que eu tenho”, afirma Will, “é um desejo, um projeto, uma tentativa, o tempo todo, de melhorar a produtividade junto com a qualidade”.
E ressalta: “Mas a qualidade vem sempre em primeiro lugar”.
Autores: T.A. & C.A